Portugal descobriu a receita contra o populismo de direita

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A economia cresce, o desemprego desce e os jovens portugueses querem regressar ao seu País – em Portugal sente-se um clima de otimismo. E os populistas de direita? Não têm hipótese. A receita do Primeiro-Ministro António Costa: fortalecer o estado social em vez de optar pela austeridade. Nos próximos dez anos o pequeno País planeia investir 20 Mil Milhões de euros na modernização das infraestruturas de transportes públicos. Desde o 25 de Abril, que o défice orçamental não era tão baixo como atualmente.

Portugal esteve a poucos passos do abismo: A política de austeridade destruiu setores vitais do país. O ex-governo conservador, liderado pelo PSD, minimizou direitos laborais e fez cortes radicais. Isso culminou em pobreza e desemprego. A economia encolheu devido ao facto de a população não ter dinheiro suficiente para gastar. Poucos anos depois, a história é outra:

Portugal sobressai entre os países europeus: A economia cresce, o desemprego desce e os investimentos sobem.

Como é que isto se sucedeu? O que é que Portugal fez de diferente, comparando o país com o resto da Europa?

Reviravolta em 2015: o estimado presidente da cÂmara de lisboa antonio costa É eleito Primeiro-ministro

A mudança deu-se com as eleições para a Assembleia da República em 2015. Nesse dia, os portugueses demonstraram o rancor que havia crescido. O antigo governo perdeu 11% dos votos. Foi a conta que o PSD teve que pagar.

O ex-presidente socialista da Câmara de Lisboa, António Costa, obteve novos votos e levou o seu partido aos 32%. Foi no ano anterior às eleições, em 2014, que os membros do PS elegeram – pela primeira vez em eleições primárias – António Costa como Secretário-geral e cabeça de lista às eleições que iriam decorrer. Já como presidente da Câmara de Lisboa ele havia conseguido ganhar em cada uma das freguesias de Lisboa.

diziam que portugal estava a cometer um grande erro

Costa foi capaz de unir os partidos de esquerda. Entretanto, o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda apoiam o governo minoritário do PS. Vários observadores deram, no máximo, poucos meses ao novo Primeiro-ministro da altura. Houve grande contestação contra o governo eleito: representantes da União Europeia advertiram Portugal a não abdicar do programa de austeridade. O Presidente da República da altura (Cavaco Silva) via um “risco para a segurança nacional” se Portugal desistisse do percurso económico conservador que estava a seguir e tentou, até, manter o anterior governo no poder. Também o Ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, criticou Portugal, dizendo que estariam a cometer um grande erro.

portugal, o MILAGRE ECONÓMICO

Entretanto, passaram mais de três anos e o Partido Socialista continua a liderar o país. A desconfiança inicial desapareceu e a Europa inteira surpreende-se com o sucesso de António Costa:

A economia portuguesa cresceu quatro anos consecutivos. Em 2017, o Instituto Nacional de Estatística registou o maior crescimento deste século.

Os Portugueses demonstraram que uma política social não só é possível, como também é mais favorável à economia. Além disso, o governo Socialista levou o país a um recorde turístico, em receitas e visitas a Portugal.

Desde o 25 de Abril, com a introdução da democracia em Portugal, o défice orçamental nunca esteve a um nível tao baixo – exatamente porque o governo investiu no estado social, o que aumentou o poder de compra dos portugueses. Os Socialistas voltaram a subir os salários e pensões que o Governo liderado pelo PSD havia diminuído. Reintroduziram dias de férias e revogaram uma serie de aumentos de taxas. Ao mesmo tempo, introduziram taxas ligadas ao património imobiliário e financeiro: um imposto sobre a herança e um imposto sobre o património imobiliário.

Com o imposto municipal sobre imóveis, o governo introduziu uma taxa que não prejudica os apartamentos e casas da maioria da população.

Acima de tudo, ainda acabaram com alguns dos processos ruinosas privatizações iniciados pelo anterio governo conservador e liderados pela União Europeia, destinados a vender os bens do estado muito abaixo do seu valor.

 O Primeiro-ministro António Costa critica o seu antecessor, dizendo que foi um erro achar que seria possível estabilizar a economia com cortes salariais e ataques ao estado social.

partido socialista vai em 40%

Portugal passou, em tempo recorde, de uma fonte de preocupação a um aluno exemplar. Humilhados pelos cortes impostos pela União Europeia e pelo governo anterior, António Costa foi capaz de devolver o orgulho ao país. Isso também é demonstrado nas sondagens:

Os Socialistas em Portugal rondam os 40% (de forma estável), de acordo com as últimas sondagens. São assim – juntamente com o líder do Partido Trabalhista Britânico, Jeremy Corbyn – o partido socialista/social-democrata com mais sucesso da Europa.


Para o governo minoritário, apoiado por dois Partidos de esquerda, as sondagens significariam um resultado de 60%.

António Costa pode estar prestes a ganhar com maioria absoluta. Nesse caso, não precisaria de nenhum partido a apoiar o seu governo.

É possível conseguir uma maioria absoluta com menos de 50% dos votos dentro da lei eleitoral portuguesa.

o PAÍS SEM POPULISTAS DE DIREITA

O canal alemão ARD fez uma reportagem sobre “O país sem populistas de Direita“. Num clima político de otimismo à partida, a Direita tem tido dificuldades em conseguir ganhar terreno, num país em que também o patriotismo faz parte da história de esquerda.

“Quando jovens europeus se radicalizam nos bairros sociais, temos que agir com medidas sociais” explica António Costa

jovens portugueses reGRESSAM ao paÍs

O clima e a situação económica estão a melhorar de tal maneira que, muitos dos jovens Portugueses que haviam emigrado já pensam em regressar ao país. Jovens esses – em grande parte altamente qualificados – que foram forçados a emigrar durante o governo anterior, pois a política de austeridade destruiu empregos e perspetivas de futuro para uma vida em Portugal.

“Os meus antecessores lançaram a maior onda de emigração dos últimos 60 anos“, explica Costa.

A economia encolheu e um em cada dois jovens estava desempregado – um número histórico e triste. Portugal esteve prestes a perder uma geração inteira. 

Entretanto há 2,3 milhões de portugueses a viver no estrangeiro e o governo de António Costa está decidido a trazê-los de volta. “É só assim que vamos conseguir por um fim à diminuição da população, revitalizar a nossa economia e assegurar o nosso sistema social a longo prazo“, diz o Secretario de Estado das Comunidades Portuguesas (José Luís Carneiro). Para isso se concretizar, o governo estabeleceu programas e redes no estrangeiro. Além disso, planeiam uma redução de impostos por um tempo determinado, para facilitar o regresso.

O desemprego baixou de 17% para 10 %. E continua a descer.

investimentos de 20 mil milhÕes de euros

Mas a surpreendente retoma económica dos últimos anos é só o começo. Durante a liderança socialista, a economia cresceu de tal maneira que o governo quer investir ainda mais e devolver, assim, essa receita à população. Após anos em que o PSD deteriorou as condições e o investimento nas infraestruturas portuguesas, o plano é tornar Portugal num País mais justo e moderno.

Foi exatamente por isso que António Costa voltou a surpreender quando, recentemente, apresentou o Programa Nacional de Investimentos (PNI 2030), num valor total de 20 Mil Milhões de Euros. Um volume enorme para um país da dimensão de Portugal. 60% serão investidos nos transportes públicos, sendo os restantes 40% destinados à área da energia e dos projetos ecológicos.

novo metro, nOvos comboios

Os investimentos estão planeados nas linhas de maior utilização, como a que liga Lisboa ao Porto, nos metros das áreas metropolitanas, bem como no transporte publico nas áreas rurais. Esse investimento é, também, um investimento na criação de novos postos de trabalho, na revitalização económica das regiões e na forte modernização do transporte público, preparando-os melhor para o futuro. E, acima de tudo isto, esta é uma aposta que faz de Portugal um país mais ecológico.  

O mais tardar em Outubro (a 6 de outubro – nota do tradutor), os portugueses vão eleger o próximo governo e, como era de se esperar, a oposição revolta-se contra o pacote de investimento.

A ideia de António Costa é uma transformação de longo prazo: “Não queremos começar com a campanha eleitoral. Queremos demonstrar a importância do investimento público, que finalmente conseguimos realizar.”

Tradução Sara do A.T. da Costa e João Duarte Albuquerque

Source: Kontrast.at / Creative Commons Lizenz CC BY-SA 4.0

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